Educação. Responsabilidade da família
ou da escola?
GONÇALVES, Regiele.
RESUMO:
A quem
cabe educar a criança que é tão pequena em tamanho e tão grande em sinceridade,
alegria, egocentrismo, dúvidas, desafios...? Amar a inocência que habita a
criança, não basta. Fazê-la curvar-se frente ao autoritarismo maquiado de
respeito não é suficiente para torná-la um ser humano, um cidadão atuante e
feliz. Se a escola e os pais, que povoam o mundo infantil, assumirem
responsavelmente o desenvolvimento de habilidades inatas permitindo o
desenvolvimento do potencial intelectual, afetivo e psicomotor, o exercício da
cidadania tornar-se-á natural e moralmente prazeroso
Palavra
chave: cidadania,
família, papel da escola.
ABSTRACT
Who is to educate a child who is so small in size and big on sincerity,
joy, self-centeredness, questions, challenges...? Love the innocence that
inhabits the child is not enough. Make her bow against the authoritarianism of
respect makeup is not enough to make it a human being, a citizen active and
happy. If the school and the parents who populate the world of children,
responsibly assume the development of innate abilities enabling the development
of intellectual potential, affective and psychomotor, the exercise of
citizenship will become natural and morally satisfying.
INTRODUÇÃO
A
escola ao ocupar o lugar da família tentará transmitir valores e conceitos de
uma maneira coletiva. Ocorre que o aluno ao agir em casa em conformidade com o
que foi ensinado na escola poderá entrar em conflito com os conceitos e hábitos
da sua família. Esta realidade acabará por confundir ainda mais a criança que
dependendo do lugar que esteja escuta ordens diferenciadas para uma mesma
situação.
A família não cumpre com a sua responsabilidade
de educar e na maioria das vezes não acata as regras quando estas vão de
encontro com a sua maneira de agir criando um choque na criança por não
encontrar no seu lar o mesmo respaldo. A criança em formação não sabe
distinguir qual é a maneira certa e sim qual é a maneira mais fácil. Se em casa
tudo é permitido ele avança; se na escola existem regras e estas são praticadas
ele as cumpre. Como ele não saberá quais valores são os corretos, criam-se
oportunistas e não cidadãos. O certo e o errado não existem para ele e sim o
aproveitar a oportunidade.
Se na minha casa eu posso fazer o que na
escola é proibido, eu vou aproveitar a minha casa e agir como eu quero.
Será que é este tipo de pessoa que queremos formar? É normal nos dias de
hoje ouvir professor dizer que: não adianta insistir, pois a criança passa
alguns anos na escola e o resto da vida com a família, então é melhor
deixá-lo agir como ele quer. E a dúvida continua sem se saber a
quem pertence à responsabilidade do ato de educar.
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Diante de várias mudanças ocorridas na sociedade, com tantas informações e avanços tecnológicos, é possível
observar uma inversão de papéis e
valores, onde a família ganha uma nova configuração, a mulher conquista cada
vez mais seu lugar no mercado de trabalho, a criança também muda e conseqüentemente o aluno e a escola.
A
sociedade atual sofre transformações, na organização da família, instituição
social fundamental na promoção educativa. Verifica-se que cada vez mais por se
encontrar ausente fisicamente do âmbito familiar, a responsabilidade sobre a
educação é relegada para a escola e o professor é chamado para desempenhar
papéis diversos.
Além de promover a educação da
criança, mostrando o correto, muitas vezes a escola terá que propiciar
situações para que os pais reflitam sobre seus papéis e atribuições, tendo em
vista que seus filhos permanecem mais tempo com os profissionais da escola do
que com eles mesmos.
Quanto mais complexa a sociedade,
maior são os desafios apresentados à escola. No sentido de atender à
complexidade atual, a escola e todo o sistema ao qual vincula-se, deve promover
uma educação que nas palavras de Libâneo (2003, p.118), consiste em:
ser agente de mudanças, capaz de gerar
conhecimentos e desenvolver a ciência a tecnologia; trabalhar a tradição e os
valores nacionais ante a pressão mundial de descaracterização da soberania das
nações periféricas; preparar cidadãos capazes de entender o mundo, seu país,
sua realidade e de transforma-lo positivamente.
Então
surge a pergunta “O que é ser cidadão?”. Segundo a definição de Helbert de
Souza – Betinho (2002, p.22),
O cidadão é o individuo que tem consciência
de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da
sociedade. Tudo o que acontece no mundo, seja no meu país, na minha cidade ou
no meu bairro, acontece comigo. Então eu preciso participar das decisões que
interferem na minha vida. Um cidadão com um sentimento ético forte e
consciência da cidadania não deixa passar nada, não abre mão desse poder de
participação.
Esta
definição de cidadania esclarece a importância da ética na formação do cidadão.
A
educação, pautada por uma ética, não constitui somente um conjunto de técnicas
e instrumentos subjacentes aos processos de ensino e de aprendizagem. Tais
processos só adquirem coerência e sentido quando, sob o crivo cientifico e
filosófico, proporciona ao homem, como ser social se transformar.
Na
sociedade atual vem ocorrendo a instabilidade de valores fixos e universais e
que nesse contexto, a educação moral como transmissora de valores e
comportamentos morais não tem mais espaço.
Não
existe sentido em falar de educação em um contexto externo à sociedade, a
exigência ética também só pode ser pensada a partir das relações com o outro.
Segundo Valle (2001, p.185),
A principal tarefa da educação é, pois, a
formação ética de seus cidadãos, que numa democracia, supõe a construção, por
parte de cada uma das condições a partir das quais ele poderá participar
plenamente da vida comum, deliberando e refletindo sobre o que é felicidade de
todos.
Educar
é um processo longo e seu resultado, seja ele positivo ou negativo, também
demora um bom tempo para aparecer. Assim sendo, hoje se pode avaliar mediante
os resultados que temos claramente evidenciado no dia a dia, que a educação não
está acontecendo de forma correta seja ela dentro de casa no convívio com a
família, seja na escola. Como vivemos no tempo do imediatismo,
percebemos que a educação, por ser um processo longo, está perdendo as suas
características principais e tudo está sendo feito de qualquer
jeito.
Atualmente a
família diz que a educação é responsabilidade da escola e a escola diz que os
pais não estão cumprindo com o seu papel de educar. Com esta discussão para
saber a quem cabe o papel de educar, as crianças estão crescendo sem qualquer
orientação, fazendo tudo o que querem e achando que são os donos do mundo.
O egocentrismo nunca esteve tão evidenciado nas atitudes das crianças,
jovens e adultos como nos dias atuais. Segundo Ferreira (2004, p.1.232):
A formação humana integral que se alicerça na ética
humana foi secundarizada pelos ditames da produtividade e da competitividade
que o neoliberalismo impõe. O individualismo, como nunca, desenvolve-se em
escala sem precedentes, quer pela ausência de formação humana, quer pela
“necessidade” de “correr atrás do trabalho” para sobreviver.
E daí nos vem
a dúvida “Qual o papel da escola?”
A escola tem a
função de implementar e promover conhecimentos, habilidades e atitudes a serem
adquiridas, desenvolvidas. Essas ações devem ser discutidas no âmbito escolar,
com todos os interessados, aluno, professor, família, comunidade. A sala de
aula é um dos espaços no qual se realiza essa aprendizagem.
A família é a
responsável direta pelo aluno. Portanto, ela precisa participar e, muitas
vezes, ela é desejada na escola: quando o aluno tem um rendimento (as notas)
baixo, quando a escola faz um acompanhamento psicológico, diante da falta grave
do aluno, etc.
O fato de a
família encaminhar seu filho para a escola, não tira dela o compromisso de
educa-lá. É pela escola que a família participa dos problemas e da vida de seus
filhos. O importante é que haja essa participação, é preciso que a escola
aceite de bom grado essa integração família/escola.
Segundo
Schmitz (1993) é função da escola
“um
lugar,um ambiente, em que os jovens se reúnem entre si e com educadores
profissionais, para tomarem consciência mais profunda de suas aspirações e
valores mais íntimos e mais legítimos, e tomarem decisões mais esclarecidas
sobre sua vida, a partir de aprendizagens significativas.”
A escola deve procurar na família a
contribuição para o crescimento individual e social de seus alunos. É preciso
preparar o educando para viver e se integrar na comunidade, no seu ambiente,
enriquecendo-o e transformando-o.
A infância necessita de um
ambiente favorável ao desenvolvimento do ser. Não se deve discutir na presença
do menino. Não se deve utilizar o recurso violento da ameaça. O lar deve ser
tranqüilo, respirar um ambiente agradável, porque isso sossega a parte psíquica
do pequeno, sempre inquieta, e então permite que a educação se acentue sem
nenhuma dificuldade.
Dedicar um cuidado especial aos
filhos. Levar a eles conselhos prudentes e sábios, o ensinamento oportuno, a
necessária advertência, extraídos esses elementos valiosos da experiência
própria. Analisar as circunstâncias que rodearam o momento em que o menino se
portou mal.
Tanto a escola quanto a
família precisa hoje, mais do que nunca, exercitar valores nas suas ações
diárias. Somente assim ensinaremos moral, ética e cidadania para nossas
crianças. Eles têm que vivenciar, principalmente através dos exemplos
das atitudes praticadas pelos que os cercam. Para viver em sociedade é preciso
cumprir regras. Elas existem justamente para serem cumpridas e não para serem
violadas. A época do jeitinho brasileiro tem que acabar definitivamente.
Somente criando indivíduos com fortes conceitos de honra, moral e ética é que
poderemos vislumbrar uma mudança radical no nosso país. Este processo é
demorado, mas temos que dar o primeiro passo o quanto antes.
Cabe à escola preparar a
recepção dos alunos, priorizando a afetividade e a socialização, para que a
criança sinta-se acolhida. Já os professores, ao receber a turma, devem respeitar
as individualidades, lidando com as diferenças. Cada criança tem o seu jeito de
ser, manifestado das mais diversas formas. O professor deve estar atento aos
desejos das crianças, cabendo-lhe proporcionar um ambiente de integração, com o
objetivo de obter uma turma homogênea, sem deixar de ser dinâmica e
participativa.
Cabe
à família valorizar a escola e incentivar a criança, preparando seu
reingresso/ingresso, preocupando-se com todos os detalhes (uniforme,
materiais), fazendo com que a criança participe dos preparativos.
Através do
diálogo, deixar claro o papel da escola, que é de proporcionar um ambiente
propício à aprendizagem e socialização; do professor, que é de ensinar a
aprender; dos colegas, com os quais deve ser buscada a convivência prazerosa e
produtiva, já que todos estão na escola com o mesmo objetivo.
A
família deve entregar a criança à escola de forma confiante, passando por sua
vez confiança e credibilidade na escola. Os pais devem estar bem informados
quanto à metodologia e rotinas, para evitar dúvidas e desencontros.
Não
depende somente do professor que o aluno tenha uma boa formação, mas da visão
que este tem para o seu futuro. Se ele busca estudar para entrar em uma
faculdade, ter uma boa profissão vai valorizar a escola e considerar que ela
tem um papel importante para que ele consiga alcançar este objetivo.
REFERÊNCIAS
____________, Educação e
Conflito : Guia de Educação Para a Convivência. Xesús
R Jares (2002)
PARO. Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e qualidade do
ensino. 2007.
GONÇALVES.
Vilmar. Educar
– De quem é a responsabilidade? Da Escola ou da Família?. 2008.
Acesso
em 20 de mar. 2009
LINDEMEYER.
Carmen Lucia Reichel. Papel da escola e dos pais.
Acesso em 20 de mar. 2009
Disponível em: www.cidadedocerebro.com.br/newsletter_escola_de_pais.asp
Acesso em 23 de mar. 2009
|
LOPES. Patrícia. Educação precisa acontecer no
contexto familiar.
Disponível
em: www.brasilescola.com/psicologia/papel-dos-pais-na-educação.htm
Acesso
em 23 de mar. 2009.
EDUCAÇÃO
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Grande. Ed. UNIDERP, 2008. pág. 151 a 179.